Como funcionam os deslizamentos de terra

11/09/2010 21:37

 

Introdução a Como funcionam os deslizamentos de terra

Quando acontecem desastres naturais, como os tornados e tsunamis, eles tendem a chamar a atenção do mundo todo. Raramente os deslizamentos de terra chegam às manchetes da mesma maneira que os vulcões e os terremotos que podem causá-los, mas quando a terra literalmente vai por encosta abaixo, o efeito geralmente é pior que a causa.

A força dos deslizamentos pode fazer casas desabarem, represar rios e destruir cidades inteiras. Os deslizamentos foram responsáveis por mais de 30 mil mortes em todo o mundo em 2005 [fonte: Petley (em inglês)]. Os danos custam, somente para os Estados Unidos de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por ano, ultrapassando quaisquer outros desastres naturais juntos [fonte: Força-Tarefa de Busca e Resgate dos Estados Unidos (em inglês)].

 

Os deslizamentos são uma forma de movimento de massa, que envolvem o

desprendimento e transporte de solo e/ou material rochoso vertente abaixo, normalmente induzidos pela gravidade. Esses movimentos podem ocorrer lentamente durante anos ou podem acontecer em questão de minutos. Um movimento de massa pode ser tão pequeno quanto as pedras que você chuta na rua ou tão grandes quanto o deslizamento causado pela erupção do Monte Sta. Helena, em 1980.

Há vários tipos diferentes de movimentos de massa classificados pelo tipo de material envolvido, a maneira como se move e sua rapidez. Entretanto, com qualquer movimento de massa, uma camada do solo se separa em alguns graus do leito da rocha subjacente. O solo é uma mistura relativamente solta de pedras desgastadas, minerais, ar, água e material orgânico decomposto que cobrem a superfície. O leito é a camada de rochas mais sólida e estável que fica abaixo.

Embora a palavra deslizamento de terra seja (incorretamente) usada, geralmente, para incluir vários tipos de movimento de massa, o deslizamento é algo mais específico. Refere-se a um movimento de massa em que as rochas e sedimentos se soltam de um leito de rocha estável ao longo de uma zona diferente de fraqueza. As rochas e os sedimentos se separam e se movem rapidamente morro abaixo. Seria possível pensar em algo como um cartaz colado na parede com fita adesiva. Ele ficará preso, a menos que forças externas atuem sobre ele. Mas se um peso extra for colocado no cartaz, ou se a fita que o prende molhar, a conexão ficará fraca e ele cairá.

Neste artigo, você aprenderá o que acontece quando um deslizamento ocorre no fundo do mar, por que desmatamento e água não se misturam e quão poderoso (e quente!) pode ser o deslizamento vulcânico.

 

Movimentos de massa

Um deslizamento de terra é somente um dos tipos de movimentos de massa. A gravidade também é responsável por várias outras formas de movimento sedimentar. Outros tipos importantes de movimento de massa são o desmoronamento, o escorregamento e o fluxo.

foto de desmoronamento
Pesquisa Geológica do Colorado
Árvores mostram a evidência de desmoronamento

Desmoronamento é o movimento lento do sedimento encosta abaixo - tão lento que, às vezes, ocorre durante muitos anos. A aderência do sedimento ao leito de rocha fica impedida, mas não completamente destruída. Os desmoronamentos geralmente ocorrem em áreas que passaram por repetitivos congelamentos e descongelamentos, que mudam a estrutura e a composição do solo. Também podem ocorrer em inclinações leves. Você já viu árvores ou postes telefônicos curvados em ângulos estranhos em relação ao chão? A culpa é do desmoronamento.

No escorregamento, uma grande parte de um sedimento se solta em um pedaço único em vez de em pequenas partes. Acontece quando a base não pode mais suportar o peso que está no topo. O sedimento envolvido geralmente está molhado ou se assemelha a barro, e quase sempre a água é o fator da descida. A água acrescenta massa à camada superior do sedimento ou desgasta o solo na base, enfraquecendo a ligação entre as camadas superior e inferior. É possível que você já tenha visto um escorregamento, se já tiver ido a um lago ou à praia e ficou parado na areia molhada: ele simplesmente afunda em um único bloco.

Os fluxos são o resultado da mistura da água com o sedimento para formar uma massa ensopada de rochas, água, solo e outros materiais. O resultado desliza facilmente para abaixo. Os fluxos de lama e as avalanches são exemplos desse tipo de movimento de massa e podem ser muito destrutivos.

 

danos do deslizamento
Todd Bigelow/istock
Carros e casas danificadas por um deslizamento depois das tempestades do El Niño no sul da Califórnia

Para entender melhor os deslizamentos e os movimentos de massa, entenda um pouco mais sobre os dois processos contribuintes de meteorização e erosão, que veremos na próxima página.

 

Monte Sta. Helena

A maioria das pessoas soube da grande erupção vulcânica do Monte Sta. Helena, em 1980, mas poucos sabem que o deslizamento provocado é o maior de toda a história. A uma velocidade de 241 km/h, o deslizamento histórico destruiu 27 pontes, muitos quilômetros de estrada e aproximadamente 200 casas. Os escombros cobriram uma área de 37 km2 e 3,38 bilhões de m3 [fonte: Brantley]. Para obter mais informações sobre a explosão do Mt. Sta. Helena e suas conseqüências, visite o site da USGS.

 

 

Meteorização e erosão

Um deslizamento pode acontecer em um minuto. Mas, na realidade, as forças começaram a trabalhar silenciosamente no local há um bom tempo. A meteorização é uma dessas forças mais silenciosas por trás dos deslizamentos.

Essa ação é o desgaste natural dos objetos pelos elementos ambientais. Embora o termo seja usado algumas vezes de modo equivocado ou no lugar de erosão, os dois processos são diferentes. A erosão é o processo de transporte do material desgastado e a meteorização é o desgaste real desse material. A meteorização é um fator importante nos deslizamentos - os relevos que foram muito desgastados pelo clima têm muito mais propensão à erosão. Calor, frio, água e oxigênio são forças comuns da meteorização. Esse desgaste de objetos pode ser mecânico ou químico.

  • A meteorização mecânica é a decomposição física de um objeto em componentes menores sem mudar sua composição química. Alterações na temperatura, congelamento e descongelamento da água e crescimento de plantas são forças da meteorização mecânica.
  • A meteorização química se refere à decomposição de um objeto em partículas com uma composição mineral diferente da do objeto original. A água talvez seja o agente mais poderoso da meteorização química: com o tempo, ela pode dissolver vários tipos de rocha em uma solução com formação química diferente da substância original. Outros tipos de meteorização química envolvem reações químicas mais complicadas com oxigênio, dióxido de carbono, água ou outros compostos.

A erosão, transferência do sedimento desgastado, sempre envolve a precipitação, ou o depósito do sedimento desgastado em um novo local. Além da meteorização, a erosão e a precipitação são responsáveis pelo contínuo remodelamento da superfície da Terra. O sedimento está em constante desgaste por algum tipo de meteorização, arrastado por um agente de erosão e depositado em um local diferente. Os deslizamentos de terra geralmente são um método de erosão extrema e de ação rápida: transferem os sedimentos colina abaixo e os depositam no fim do caminho. O sedimento que um deslizamento deposita é conhecido como talude.

 

meteorização, erosão e precipitação
Lynn Betts/Tim McCabe/Serviço de Conservação dos Recursos Naturais do USDA
Representação de erosão, meteorização e precipitação. O solo é o primeiro a ser atingido mecanicamente pelas mudanças de temperatura. Depois, a água é o agente de erosão que transporta o sedimento. Finalmente, a precipitação do material desgastado.

Os cinco agentes de erosão são vento, água, geleiras, ondas e gravidade. Conforme vimos anteriormente, a gravidade é o agente subjacente de todos os tipos de movimento de massa. Sem a força da gravidade para puxar o sedimento para baixo, um movimento de massa não ocorreria. Mas qualquer um dos outros quatro agentes também pode ter um papel importante. Continue lendo para conhecer as causas dos deslizamentos.

 

 

Deslizamentos vulcânicos

Os vulcões têm superfícies instáveis, por isso, há grande probabilidade de haver deslizamentos mesmo quando o vulcão está adormecido. Além do fato de que a superfície é composta principalmente de rochas soltas, os gases vulcânicos criam um lençol freático ácido. Isso contribui para a decomposição das rochas, deixando-as mais propícias a serem transportadas.

Os deslizamentos também podem ocorrer durante a atividade vulcânica. Há dois tipos de deslizamentos vulcânicos: os fluxos piroclásticos e as correntes de lava vulcânica.

Os fluxos piroclásticos ocorrem durante a erupção de um vulcão ou depois do colapso de sua cúpula. Esses fluxos de alta velocidade, compostos por cinzas, lavas, rochas e gases, podem chegar a 815,5ºC e alcançar 724 km/h [fonte: Perigos de deslizamentos, USGS (em inglês)]. Os fluxos piroclásticos que surgem com a força de um furacão são capazes de arrasar e destruir o que estiver pela frente.

 

fluxo piroclástico
J.D. Griggs/Observatório Vulcânico do Havaí/Pesquisa Geológica dos Estados Unidos
Fluxo de lava próximo à costa em Pupapau Point, Kalapana, em 27 de novembro de 1989 durante a erupção do Kilauea

As correntes de lava vulcânica, que não ocorrem necessariamente durante uma erupção, são causadas pela água. A água poderia vir de uma tempestade, de neve e gelo derretidos ou de uma geleira derretida pela lava. Junto com a água, as correntes de lava contêm lama e rocha. De 60% a 90% do peso da corrente de lava podem ser de escombros de rochas, que ganham uma força enorme. Geralmente consideradas o tipo mais perigoso de ameaça vulcânica, as correntes de lava podem chegar entre 32 km/h e 64 km/h e percorrer mais de 80,4 km [fonte: Perigos de deslizamentos, USGS (em inglês)], devastando árvores e casas que aparecem pelo seu caminho.

 

Correntes de lava vulcânica após a erupção do Mt. Sta. Helena, em 1982
Pesquisa Geológica dos Estados Unidos
Neve e gelo derretidos na parte norte do Mt. Sta. Helena iniciaram essa corrente de lava vulcânica, que chegou rapidamente ao vale de North Fork do Rio Toutle

Nem todas as causas de deslizamentos são tão óbvias quanto as listadas aqui. Com certeza, os seres humanos também têm um papel importante nos deslizamentos devastadores. Continue lendo para descobrir os erros que cometemos e como podemos nos prevenir e nos preparar para os deslizamentos.

 

Cuidado: área de perigo

Algumas áreas são mais propícias aos deslizamentos do que outras. Como é de se esperar, qualquer área montanhosa que receba chuva ou neve freqüentemente é um local excelente para um deslizamento. Bases de cânions, vales, valas, canais, galerias e outras avenidas também são perigosas. Nos Estados Unidos, os deslizamentos ocorrem em todos os 50 estados, mas são mais comuns no sul da Califórnia e nas regiões do extremo norte do Havaí, Califórnia, Idaho, Oklahoma e Washington. As Montanhas Rochosas e a Sierra Nevada que ficam a oeste, e os Apalaches, a leste, também são suscetíveis devido à inclinação e à quantidade de rochas desgastadas.

 

 

Pessoas e deslizamentos

Os seres humanos deixam os deslizamentos mais propícios devido a atividades como desmatamento, pastoreio excessivo, mineração e construção de estradas.

Lembra quando explicamos que a vegetação age como uma cola, prendendo o solo no lugar? Essas atividades roubam essa cola da terra e aumentam a probabilidade de deslizamento. Por exemplo, os deslizamentos acontecem mais em áreas montanhosas que foram abertas para rodovias.

Provavelmente, você já deve ter visto as placas que chamam a atenção para as pedras que caem das montanhas. Os declives acentuados com solo solto que você vê dos dois lados da estrada precisam de muito menos água para iniciar um deslizamento que em declives naturais.

 

desmatamento
Chip Porter/Getty Images
Desmatamento na floresta Prince of Wales, Alasca

Embora os deslizamentos não possam ser totalmente evitados, as pessoas podem fazer várias coisas para diminuí-los. Canos de esgoto instalados nas encostas podem levar o excesso de água, e as membranas impermeáveis, como película de plástico, podem impedir que a água despeje no solo. Além disso, instalar muros de arrimo nos intervalos prenderão os detritos soltos e os manterão no lugar, embora a remoção do excesso de massa do alto da encosta poderia impedir que a parte inferior abrisse caminho. O reflorestamento também pode impedir os deslizamentos. Quando uma área é devastada para extração de madeira, construção de estrada ou mineração, a restauração às condições naturais estabiliza a terra.

 

as raízes das plantas estabilizam o solo
Gary Vestal/Getty Images
Raízes de plantas ajudam a manter o solo no lugar

Talvez a coisa mais importante que as pessoas possam fazer para evitar os perigos dos deslizamentos seja evitar a construção em zonas de risco. O certo seria que os edifícios não fossem construídos em encostas ou em áreas de escoamento, mas se as pessoas constroem nessas áreas, devem tomar as medidas de proteção. Por exemplo, as obras devem usar barreiras para diminuir a erosão e o escoamento.

Se você acha que está em uma área propícia a deslizamentos, esteja pronto para um plano de evacuação de emergência, caso ocorra algum perigo. Fique atento a qualquer aumento ou diminuição repentino do fluxo de água e escute os sons que possam indicar o movimento de detritos ou de pedras caindo. Se suspeitar de um deslizamento, evacue a área imediatamente, se for seguro. Preste muita atenção ao dirigir, já que os aterros ao lado das estradas também são perigosos. Com certeza, você não vai querer ficar preso no caminho de um deslizamento.

Se você quiser saber mais sobre desmoronamentos de terra e assuntos relacionados, vá para a próxima página.