Neutralidade da Internet e plataformas proprietárias

Plataformas proprietárias como o iPhone pode comprometer a
            neutralidade da Internet
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Plataformas proprietárias como o iPhone pode comprometer a neutralidade da Internet
Uma batalha vem sendo preparada nas últimas duas décadas. Essa batalha está sendo travada por defensores e oponentes do conceito da neutralidade da Internet. Neutralidade da Internet é um termo abrangente que cobre muitos conceitos. Entre eles está a ideia de que qualquer pessoa deveria ser capaz de acessar a Internet igualmente, não importa o serviço que use.

Alguns provedores de Internet se opõem a essa filosofia. Ela dá a eles menos controle sobre seus próprios serviços. Se um provedor pudesse selar acordos com provedores de conteúdo, ele poderia dar tratamento preferencial aos seus parceiros. Vamos ver um exemplo:

Você assina o provedor de Internet A. Esse provedor fechou um acordo com o Web site X. Sob esse acordo, os consumidores do provedor A podem visitar o Web site X usando as conexões mais rápidas da rede do provedor A. O Web site Y é um concorrente do Web site X. Como parte do acordo, o provedor A pode reduzir a velocidade - ou até evitar - do tráfego para o Web site Y. Consumidores tenderão a visitar X em vez de Y porque chegam lá mais rápido. Como resultado, o Web site Y sofre devido ao baixo tráfego de usuários.

Se estendermos o exemplo, ele fica ainda pior. Imagine uma Internet em que os sites que você visita dependem totalmente do provedor que você assina. Em alguns mercados, você pode nem ter uma escolha de provedor - uma companhia pode dominar o mercado local. Isso quer dizer que você está preso a qualquer acesso que o o provedor decida conceder. Isso é antiético ao espírito da neutralidade da Internet.

Plataformas proprietárias também podem ameaçar a Internet. Dispositivos como consoles de videogame, smartphones e sistemas de entretenimento estão atraindo desenvolvedores para criar aplicações de Internet. Mas enquanto essas aplicações dão a esses dispositivos funcionalidades adicionais, eles também estão criando divisões na Internet. À medida que cada plataforma se torna mais fechada, os desenvolvedores têm de escolher que plataformas vão suportar.

No final das contas, isso significa que cada um dos donos desses dispositivos terá uma experiência diferente quando acessar a Internet. Se a tendência continuar, pode ficar difícil ter uma conversa significativa sobre a Internet - a perspectiva de cada pessoa será formada pelos dispositivos que ela usa.

Pode-se acabar constatando que as plataformas abertas tenham a maior parte do suporte e sobrevivam aos seus equivalentes proprietários. Mas isso pode ser uma consequência a longo prazo. Para os próximos vários anos, provavelmente veremos mais sistemas fechados acessando a Internet.

Como a Internet nos mudará?

 

A Internet e a inteligência humana

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            Internet pode mudar a maneira como pensamos?
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A Internet pode mudar a maneira como pensamos?
Nicholas Carr escreveu um artigo entitulado "O Google está nos deixando burros?". Nele, Carr diz ter notado que à medida em que a sua confiança na Internet para pesquisa e entretenimento aumentava, outras faculdades pareciam ficar atrofiadas. Uma delas era sua concentração ou foco. Ele criou a teoria que, por causa da maneira como você navega na Internet em geral - e na WWW em particular -, você está sempre pulando de um pedaço de informação para outro.

A Internet poderia afetar a maneira como os humanos pensam? Por um lado, nós temos acesso sem precedentes a uma enorme biblioteca de informação. Respostas a questões que variam de "O que é a teoria do Big Bang?" a "Quanto tempo devemos deixar a massa de pão crescer?" estão a apenas dois cliques de distância. Mas essa informação chega ao custo da nossa capacidade de pensar?

Parece não haver uma correlação à maneira como as pessoas gravam e acessam informação e a forma como pensamos. À medida que desenvolvemos sistemas que nos possibilitam salvar nosso conhecimento para a posteridade, nós nos livramos do fardo em um objeto inanimado. Isso necessariamente não quer dizer que nos tornamos menos inteligentes.

Nem todo mundo concorda com a hipótese de Carr. O Pew Research Center realiza uma pesquisa anual sobre o futuro da Internet. O grupo de pesquisa entrevista um grupo de especialistas e analistas da indústria sobre uma série de questões. Para o relatório de 2010, uma das perguntas era se eles pensavam que Carr estava certo sobre o Google - e a internet em geral - nos tornar burros. Oitenta e um por cento dos especialistas discordou.

Mas é verdade que o acesso à informação não se equipara à inteligência. Você deve ser capaz procurar um fato, mas isso não significa que você entendeu o que esse fato significa ou o seu contexto. A Internet é uma ferramenta que podemos usar para nos ajudar a aprender - ela não substitui o aprendizado em si.

Otimistas esperam que a Internet nos ensine sobre nós mesmos. O alcance da Internet está se infiltrando em países e culturas que estavam segregadas do resto do mundo. Alguns esperam que a Internet fornecerá o denominador comum que permite aos vários povos entenderem uns aos outros, possivelmente produzindo uma era de paz e cooperação.

No final das contas, a Internet poderia começar a apagar as fronteiras tradicionais entre países e culturas. Mas esse tipo de mudança global não é trivial. Pode levar décadas antes de vermos uma diferença notável na forma como pensamos uns sobre os outros. Os cínicos podem pensar que mesmo uma ferramenta tão útil e onipresente quanto a Internet não vão ultrapassar os obstáculos que enfrentaremos para nos tornarmos um mundo unido.